Corram, distraídos: Coronavírus acelera chegada da transformação digital
Estávamos
distraídos. Distraídos com tantas opções, comportamentos altamente viciantes e
automatizados, algoritmos de busca (Google Search e similares) e de redes
sociais (Facebook, Instagram, entre outras), que foram moldados para mostrarem
exatamente o que queremos ver. Espécies de máquinas de alimentar nossas crenças
individuais. Estávamos distraídos rolando feeds infinitos, distraídos com uma
cultura de esconder imperfeições e de não saber lidar com as faces não tão
belas e instagramáveis da, às vezes, dura realidade.
Pela
primeira vez em muito tempo, deixamos um pouco as distrações de lado e,
independente de classe social, partido político, nacionalidade, raça, filtro
utilizado nas fotos ou quantidade de seguidores nas redes sociais, estamos
todos (ou quase todos?) juntos por uma mesma causa: lutar contra o vírus. E
diga-se de passagem, uma causa bastante grande.
Gestores
também estariam distraídos?
Nos
rendemos à importância e à gravidade da pandemia que estamos enfrentando e, em
escala global, iniciamos um movimento em massa de renúncias pessoais. Um
acontecimento único.
Renunciamos
a muitas coisas que, aquele nosso egoísmo interno tanto adorava (e que as redes
sociais promovem com sucesso). As quarentenas nos fizeram ter de renunciar a
férias marcadas, viagens, banhos de mar, corridas no parque e abraços em
pessoas queridas. E como é difícil renunciar. Especialmente quando já tínhamos
assumido essas ações como naturais.
Deixando
a filosofia do comportamento humano de lado, e voltando atenções ao mundo dos
negócios, acredito que os gestores de marketing, com os quais tenho um contato
bastante frequente, de forma geral, também andavam meio distraídos.
Estavam
distraídos com a repetição de processos legados antigos, com a replicação de
métodos de medição totalmente obsoletos. Sim,
ainda tem gente utilizando número de impressões, cliques e modelos "de
último clique" como métrica de sucesso em pleno 2020. Isso com a
contratação de inúmeros fornecedores com promessas vazias de aumento de
eficiência rápida. Que ilusão.
Mudanças
num ritmo acelerado
O
atual cenário de crise tem feito empresas tomarem ações drásticas de forma
muito veloz. Não falo apenas do trabalho
remoto forçado e das infinitas horas de videoconferências por dia, mas da
preocupação em focar apenas em linhas de negócio que de fato gerem valor, em
revisitar custos, rever fornecedores e repensar toda a comunicação com os
clientes (que já tinham mudado suas expectativas bem antes da pandemia).
Tudo
buscando mais eficiência. Aparentemente existia muita gordura para ser otimizada. Diretores de Marketing, CMO's, CIO's,
diretores de tecnologia, diretores de analytics, a cúpula que lidera toda a
estratégia de marketing, comunicação, vendas e tecnologia das empresas mais
relevantes da nossa era tem levantado da cama com uma postura bastante
diferente nas últimas quatro semanas.
A
tal da "transformação digital" chegou
As
conversas que tenho tido ultimamente mudaram drasticamente de tom. Do dia para
a noite parece que a tal da "transformação digital" deixou de ser um
tema de revista/palestras e virou caso de vida ou morte. Está acontecendo.
Chegou
a hora de tirar do papel os planos para um uso mais estratégico de dados para
tomada de decisões rápidas e precisas, revisão de modelos de medição de canais,
corte de desperdícios nas compras de mídia, comunicação mais customizada e
pensada no usuário, entre outras ações.
Sabe
todas essas iniciativas que fazem bastante sentido, mas que sempre
"estavam na fila de TI" e nunca aconteciam? Sei lá o que aconteceu
com essas tais filas, mas pela primeira vez, elas começaram a andar, e em
velocidade mais exponencial que a inclinação das curvas do COVID-19 que vemos
na TV.
Sim,
estávamos distraídos e perdemos tempo
Nunca
vi tanta mudança acontecendo em tão pouco tempo. A pergunta que tenho me feito
é: por que não tomamos estas ações antes? Estávamos distraídos.
Finalmente
acordamos (e estou otimista). Acredito que, como pessoas, temos que evoluir
diante de tudo que está acontecendo.
O
mesmo vale para a nossa indústria de marketing e tecnologia. Tenho certeza de
que vamos sair dessa muito melhores, com estruturas mais eficientes e com uma
consciência bem maior de que já era hora de deixar ir muitos dos vícios antigos
que nos perseguiam.
Ao
que parece, finalmente vamos falar de eficiência e focar no usuário. Adoro uma
frase de um futurista americano, chamado Brian Solis, que diz que "digital
transformation is not about digital, is about humans" (transformação
digital não é sobre digital, é sobre pessoas, em inglês).
Parece
que nós, humanos, estamos mesmo (finalmente) mudando. Talvez agora a tal
transformação digital de fato aconteça, assim como a nossa transformação como
seres humanos. E, por isso, ainda estou otimista.
Fonte: economia.uol